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O perigo silencioso do home office que tanto amo...

  • Foto do escritor: João Riva
    João Riva
  • há 4 dias
  • 3 min de leitura

Desde 2020, a minha empresa funciona em esquema de home office. Na verdade, é o modelo híbrido: vamos para o escritório uma vez por semana e, nos outros quatro dias, cada um trabalha de casa. Ainda assim, tem gente da minha equipe que eu nunca vi pessoalmente. Pessoas que vivem em outras cidades, em regiões distantes, e atuam 100% online.


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Eu confesso que sou um entusiasta do home office. Acredito que ele oferece qualidade de vida para os profissionais, que deixam de gastar uma ou duas horas no trânsito de São Paulo para chegar ao trabalho. Com esse tempo livre, podem aproveitar a vida, curtir os filhos, cuidar da saúde ou até fazer freelas e aumentar a renda. Eu também gosto do meu home office. Demorei a me adaptar, mas hoje vejo nele muitos benefícios: fico mais perto da minha filha, consigo ir à academia no horário do almoço e mantenho uma rotina mais equilibrada.


Mas, apesar de tudo isso, preciso dizer que o home office é perigosíssimo para a carreira das pessoas. Ele é ótimo no presente, mas pode ser péssimo para o futuro. É como um remédio que traz prazer imediato, mas que, se tomado por tempo demais, gera efeitos colaterais profundos.


Por isso, tenho muito cuidado com a forma como organizo o meu próprio trabalho remoto. Porque o home office, quando mal administrado, entrega alguns problemas sérios.


1) A perda da referência


O primeiro é que, longe do dia a dia do mercado, a gente perde o senso de comparação. E esse é um dos maiores riscos. Quando você não está presente fisicamente, não percebe o quanto o mercado avança, como seus colegas evoluem e melhoram suas entregas. No silêncio do seu quarto, acredita que está fazendo um ótimo trabalho, e pode até estar, mas talvez não perceba o quanto está ficando para trás.


No ambiente de mercado, observar os outros é essencial. Ver o desempenho dos colegas, acompanhar como outras empresas se movem, entender novas referências. Isso ajuda a calibrar o próprio nível de entrega e de exigência. O home office tira esse sensor. E sem ele, a gente corre o risco de parar no tempo.


2) O conforto que desacelera


O segundo ponto é o conforto. Estar em casa é confortável, e é justamente isso que pode ser perigoso. Eu noto que muitos colaboradores e clientes que trabalham em home office têm mais dificuldade para se mobilizar para reuniões presenciais. E eu entendo o motivo: sair de casa, enfrentar trânsito, se arrumar, tudo parece um incômodo desnecessário.


Mas quem está no escritório encara essas mesmas reuniões com naturalidade. São parte do dia, não um obstáculo. E é nesses encontros que nascem ideias, trocas e parcerias que não acontecem na tela de um computador.


Lembro de uma vez em que eu estava com um cliente, tomando um café com ele e com outros profissionais. Em determinado momento, ele me disse: “Sabe o que é mais importante do presencial? É isso aqui. É o café, a conversa, as ideias que surgem sem agenda.” E ele tinha toda a razão. As grandes ideias costumam nascer das conversas simples, da convivência, do improviso.


Quem trabalha sempre de casa acaba se afastando disso. Vive em um ambiente controlado, previsível, calmo demais. E o conforto prolongado não é bom para ninguém. Ele é ótimo por um tempo, mas, se vira rotina, nos enfraquece.


3) O networking que desaparece


Outro impacto profundo é a perda de networking. Antes da pandemia, era comum ver meus colaboradores trocando de agência. Para mim, como gestor, isso sempre foi difícil, mas eu entendia. Um saía, outro levava junto, clientes indicavam, o mercado girava. Hoje, com todos isolados em suas casas, essa rede se rompeu.


Quando alguém da equipe vai para outra empresa, muitas vezes nem tem quem levar, porque nem conhece os colegas com quem trabalha há meses. O networking, que sempre foi uma das principais moedas de crescimento profissional, se enfraqueceu.


E isso vale para mim também. Quanto mais tempo passo em casa, menos clientes conquisto. É na rua que as coisas acontecem. É no evento, na visita, na reunião improvisada, que surgem novas oportunidades.


O equilíbrio possível


Não me entenda mal: o home office é uma das melhores invenções dos últimos anos. Eu não abro mão dele nem para mim, nem para minha empresa. Mas é preciso encará-lo com consciência. Porque, a longo prazo, ele traz efeitos colaterais graves.


O home office isolado enfraquece a convivência, reduz o networking, afrouxa o senso de urgência e limita o aprendizado que vem da troca. Por isso, meu alerta é simples: use o home office a seu favor, mas não deixe que ele engesse a sua carreira.


Ficar em casa é uma delícia, e é natural querer preservar esse conforto. Mas a carreira é construída dia após dia, com presença, convivência e movimento. E se a gente se acostumar demais com o isolamento, o que hoje é conforto pode virar atraso.

 
 
 

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